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Olho com certo desdém para todo o conteúdo literário já postado. Vejo todos os erros e descontruções de idéias que fiz e me envergonho. Escrevo esse texto agora, já transtornado, absorto pelo fato que não mudei, absolutamente nada. A mesma construção das frases, as vãs tentativas de usar um vocabulário rebuscado, que não é meu, e uso, sem permissão, e indisciplinadamente.
Me perturba observar as páginas anteriores, e concluir que se reescrevidas, não mudaria um ponto, nem as linhas tortas por onde escrevi perto da margem, nem a tinta escolhida. Sou o mesmo que fez aqueles rabiscos quando novo, ou aquela declaração a garota que ama, o mesmo que copiou dissertações alheias no último dia de entrega na escola, aquele que desdenhou do passado, sabendo que vive dele.
Essa época sempre me frustra, pois acumulam-se expectativas por mudanças e uma anciedade que machuca pela demora às respostas. Esse Dezembro - como todos os outros, não é diferente. Muito embora, noto uma sutil diferença em mim, algo mudou. As mudanças podem vir à tona numa reflexão ao espelho, como pode ser notada no dia-a-dia. Há agora um aglomerado de sonhos realizados, com outros que não, preocupações que surgem, outras que permanecem. Só quero que dessa vez, tudo corra bem e que continue bem, encontrando minhas respostas no ano que virá.
Não resta dúvida que cresceste,
seu rosto jovial se fora,
agora, ostenta toda uma expressão enigmática.
Ao te olhar, noto que não mais te conheço,
sinto saudade do teu outro eu,
e também do eu que eu era.
A mudança te preocupa,
antes a tranquilidade era sentida.
A proteção mal acostumou-te,
sentes agora na pele o que é a vida,
embora a proteção ainda não se extinguira.
Já prevê sua saida,
e sabe que é em breve.
A eterna dúvida é que resta:
como será?
na sua mente você sabe,
não quer admitir, mas sabe,
que o proximo passo,
você… não quer dá-lo,
sente-se fraco,
impotente,
não é homem o bastante.
Mas o fatídico momento chegará,
talvez você precise apenas se superar
- superar esse medo do futuro,
ou talvez não adiante,
e esta fadado ao fracasso.
Me sinto confuso as vezes
estou confuso agora
não consigo distinguir sonho de realidade
ou não quero…
é mais fácil não querer
pois, quem quer sofrer?
aparentemente todos queremos…
podemos encontrar varias coisas na vida:
felicidade, amor, amigos…
dor, ódio, fúria…
todas elas levam a uma verdade:
que não temos o menor controle dela
e que não sabemos de nada.
será que estou errado de querer ficar aqui…
sonhando?
ou ao menos com os olhos fechados simulando sono?
minha covardia não levará a nada.
sei disso…
sinto-me cançado,
sem fazer nada
talvez esteja doente
talvez…
talvez estejamos
talvez…
Só queria que alguém me acordasse
e dissesse que só preciso dormir.
O tédio consome meus dias rapidamente. As palavras, hoje mais rebuscadas, não vem-me com a abundancia de outrora. As pessoas ao meu redor tornaram-se mais escassas. Tudo aparenta ser limitado e previsivel. Minha consciencia afirma que amanha estarei aqui, sentado, fazendo as mesmas coisas. O alvorescer confirma o prelúdio de minha mente.
Meus sonhos e objetivos levarão tempo para se realizarem, caso ocorram. Vivo nos dias antescedentes a eles. Houve mudanças recentemente, provável que seja a realização inesperada de um de meus sonhos. O nervosismo e a anciedade, ainda existentes, transformam-se aos poucos em algo prazeroso, pelo simples fato da realização.
A anciedade reaparece na sua ausência, e o tédio continua a consumir os dias ate o próximo encontro.
A união era impar. Uma amizade febril, que não haveria se achar mais pura nem mesmo entre os anjos.
Seus mundos, assim como suas ideias, edificavam-se totalmente opostos, embora os valores fossem uniformes e inalienáveis. Valores que, compartilhados, deram a luz à cumplicidade, a camaradagem que se fazia presente nos melhores e piores momentos.
No entanto, a vida, coletivo de imprevistos e ironias, tratou de reservar curto caminho à amizade que se mostrava tão enorme, promovendo triste fim à uma pessoa que sempre fora tão alegre.
O amigo, hoje, lhe aparece em forma de recordação das horas felizes, belas recordações que o presente e o futuro só podem tornar mais saudosas, jamais destruir, pois, como certa vez disse um sábio, esse é o misterioso privilégio do passado.
Olhava fixamente aquilo estirado a sua frente. De joelhos ele estava, quando notou sua consciência voltar, embora soubesse o que tinha feito. Fechava os olhos, e via sua filha, ou partes dela. Ao abrir os olhos, via sangue, o culpado e uma sentença, seguidos de um vazio que o secava por dentro. A filha lhe servia de olhos, com ela só enchergava a pureza das coisas, ela definitivamente era sua morfina, que foi perdida prematuramente, forçando-o a sentir a realidade. Agora, ja sem balas, queria uma opção para se juntar a ela. Ao levantar, reclinou-se sobre o corpo onde alojou as balas, e deixou a Glock vazia. Caminhou em direção a janela, estava concentrado.
Restavam 10 segundos no cronômetro. Já haviam desistido de escapar. As feridas nos pulsos, ainda roçavam nas cordas, agora mais frouxas, porém não restavam-lhes forças para tentar. Olharam-se, um olhar de desespero, pois sabiam o que ocorreria quando o relógio zerasse. Se não estivessem amarrados, um abraço seria inevitável. Tombaram, ficaram frente a frente.
5 segundos…
Um filme rodou, de meio segundo, contendo milhares de flashs de tudo o que passaram juntos ate aquele momento. O beijo foi salgado, molhado pelas lagrimas de suas lembranças.
0
Não havia mais dor, nem amor, nada.
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