O sujeito era um guerreiro, de fato. Com seu espírito conspícuo, enfrentaria o que quer que fosse para continuar em seu curso de ação.
Não temia nem Deus nem o mundo, sua alma era fria, o coração implacável; no lugar do corpo, o que havia era uma fortaleza intransponível e perene.
Conquanto fosse demasiado forte, não havia em sua face sequer requício de placidez, ao contrário, exalava um ar tenso, desconfiado, exarcebadamente circunspecto. Onde se fizesse presente, o ambiente tornava-se retesado. Talvez fosse apenas a imagem que quisesse passar, mas eu dúvido.
Suponho que o intrépido guerreiro era, na verdade, um completo infeliz. Ele sempre se fechou em torno de si mesmo, de suas convicções, de seu pequeno mundo, no qual era rei e era súdito, mas reinava mesmo assim, e isso bastava.
Sempre encarou a vida com o olhar de apreensão com o qual se estuda um inimigo. Definitivamente, nunca conseguiu lidar com pessoas; lidava com problemas, lidava particularmente bem com problemas, com pessoas não.
Nunca soube perder - era evidente que não tinha nascido com jeito pra isso - não chorava, não caia.
Porém o tempo passava pra ele, sorrateio e apressado, bem como pra nós. Sua alma já não era fria como antes, o coração dava sinais de cansaço e amolecia; o corpo deixara há muito de ser a usual fortaleza... Sentia-se enfraquecendo.
É impressionante como o passar dos anos tem esse efeito corrosivo; ele basicamente se impõe sobre nós, alterando nossas mais profundas certezas, trazendo junto com a experiência, gotas de sensibilidade e, por fim, nos faz sucumbir.
Acredito que seja o medo desse momento derradeiro que nos pormove essas mudanças.
No entanto, pra quem teve uma vida inteira pra sorrir e ser feliz, e não o fez, o desfecho está bem desenhado, embora o desenho não tenha um bom aspecto.
Há 6 anos
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